segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Um Coroinha Beatificado


Beatos Mártires Pe. Manuel Gomez Gonzalez e
Coroinha Adílio Daronch
de Nonoai, RS
Há oitenta anos, no sertão do Alto Uruguai, região norte do Estado do Rio Grande do Sul, dava-se um crime bárbaro: Pe. Manuel Gómez González e seu coroinha Adílio Daronch eram assassinados com requerentes de crueldade. Este tempo não foi suficiente para apagar da memória popular o exemplo de coragem, profetismo e espírito missionário dos Mártires do Alto Uruguai.
 Pe. Manuel Gomez Gonzalez, filho de José e Josefa, nasceu em 29 de maio de 1877, em São José de Ribarteme, Diocese de Tuy, na Espanha. Recebeu o batismo no dia seguinte. Seu sonho de menino de ser padre realizou-o em 24 de maio de 1902.
Em 1904, depois de exercer seu ministério sacerdotal em sua terra natal, passou para a Arquidiocese de Braga, Portugal, onde foi pároco das Paróquias Nossa Senhora do Extremo (1905-1911), e de Santo André e São Miguel de Taias e Barrocas (1911-1913).
Em 1913, devido à perseguição religiosa à Igreja Católica Portuguesa, obteve licença para vir ao Brasil. Chegando ao Brasil, apresenta-se ao Bispo de Rio de Janeiro e é encaminhado ao Bispo de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que o nomeia pároco de Soledade - RS em 23 de janeiro de 1914.
Há 29 de dezembro de 1915 é nomeado pároco da Paróquia de Nonoai, região norte do estado. Em Nonoai desempenhou sua missão evangelizando seu povo com esmero e dedicação até 1924.
No exercício de seu ministério em Nonoai se cruzam os caminhos de Pe. Manuel e de Adílio Daronch, outro jovem mártir. Adílio nasceu no dia 25 de outubro de 1908, em Dona Francisca, Município de Cachoeira do Sul – RS. Seus pais, Pedro Daronch e Judite Segabinazzi, tinham 08 filhos: Ermínia, Abílio, Adílio, Zulmira, Anita, Carmelinda, João e Vilma. Em 1911, a família transferiu-se para Passo Fundo e, em 1913, para Nonoai. Fazia parte do grupo de adolescentes que acompanhavam o Pe. Manuel em visita às comunidades do interior, inclusive a dos índios Kaingang. Além de servir o Altar, Adílio e outros colegas, eram alunos da escola pelo padre fundada e dos quais era também professor.
Pe. Manuel sabia do perigo que enfrentava. Não foi nada fácil como ele próprio expressa numa de suas cartas, datada há 11 de janeiro de 1916, a Dom Miguel Lima Verde, bispo de Santa Maria: "Com bastante dificuldade terei que lutar, mas tudo desaparecerá com a ajuda de Deus"(Carta ao Bispo de Santa Maria, D. Miguel de Lima Valverde, datada de 11 de janeiro de 1916). Pe. Manuel refere-se ao contexto histórico da Revolução de 1923.
Enio Felipin e Teresinha Derosso, em recente publicação, descrevem esse cenário com detalhes: "O Rio Grande do Sul viu seu chão, manchado pelo sangue de homens, tombados pela cruel Revolução de 1893, que teve como marca a degola, dilacerando vidas e trazendo desgraça e tristeza para muitas famílias. Essa Revolução deixou sentimentos de vingança e violência em muitos corações, que teve quase continuidade na Revolução de 1923, ocorrendo nesta, muito banditismo misturado às causas do combate. Homens violentos e vingativos, sem seleção alguma, integravam os corpos provisórios da infantaria, espalhando a morte e o terror por onde passavam... A região norte do Estado, o Alto Uruguai, foi a primeira a sofrer pela revolução, por anos de sangue, saques e baixas vinganças. As cidades de Passo Fundo e Palmeira das Missões foram atacadas pelos caudilhos Mena Barreto e Leonel da Rocha. O general Fermino de Paula defendeu Passo Fundo e o general Valzumiro Dutra defendeu Palmeira. Eram maragatos e chimangos promovendo cenas de sangue, fazendo o povo sofrer muito. Até o padre Manuel Roda, pároco de Palmeira, sofreu perseguições pelos revolucionários, retirando-se para a Argentina".
Em 1924, devido à vacância da Paróquia de Palmeira das Missões, o Bispo de Santa Maria, determinou ao Pe. Manuel para atender os cristãos do sertão do Alto Uruguai. Lá foi ele com a missão de batizar, celebrar casamentos e primeiras comunhões, e catequizar o povo daquela vasta região, mas sabendo do perigo que devia enfrentar. Noutra carta expressa sua angústia: "Devido ao meu estado de saúde, a anormalidade deste município e não havendo garantias de vida, por estar toda esta zona desde Nonohay até Palmeira em poder dos revolucionários... e temendo ser agredido na estrada... ou ficar de a pé, suplico a Vossa Excelência Reverendíssima, humildemente me dispense deste cargo ao menos enquanto durar este estado anormal..."(Carta ao Bispo de Santa Maria, datada há 08 de agosto de 1923). Encorajado pela fé pôs-se à missão.
Foi a caminho dessa missão e numa perseguição pelas comunidades de colonos, próximo de Três Passos, distante 250km de Nonoai, sua paróquia, que Pe. Manuel e seu coroinha Adílio caíram numa emboscada armada por soldados provisórios. Foram amarrados, maltratados... Tudo terminou com dois tiros no sacerdote e três tiros no menino de 15 anos. Era dia 21 de maio de 1924. Foram sepultados no mesmo cemitério que iriam abençoar.
Podemos suplicar a intercessão do Beato Coroinha Adilio rezando: "Ó Deus de Bondade, que vos comprazeis em acudir às necessidades de vosso povo em atenção aos méritos dos justos, concedei-nos por intermédio dos Beatos Mártires, Manuel e Adílio, a graça que vos pedimos, pois eles foram fiéis na terra, testemunhando com o próprio sangue sua fé no Redentor. Fazei que para maior glória e proveito dos fiéis, sejam glorificados na terra com a honra da canonização. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém

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